quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Roll Over And Die (ROAD) : Capítulo 09 - E nos Encontramos de Novo

 

Capítulo 09:

E nos Encontramos de Novo

         Flum, Milkit e Sara se sentaram na parte traseira da carroça que balançava suavemente enquanto mastigavam seu almoço. Havia comida suficiente comida para quatro pessoas, mas Stude estava desmaiado na cama do carro, roncando alto. Uma vez que viram o pão branco suave ao redor das carnes e verduras, e encharcado em um molho picante, elas mal conseguiram parar. O molho era doce e não tinha muito sabor.

            Sara colocou todo o pão na boca. “Delicioso!”

            Flum explodiu em gargalhadas ao ver as bochechas de esquilo de Sara.

            “Me sinto honrada em escutar isso.”

            “Whoa, foi você que fez isso, Milkit?”

            “Não é nada especial.” Milkit havia acordado cedo para preparar o almoço, embora a comida tenha sido proporcionada por Stude.

            Flum riu. “De maneira nenhuma, isso é incrível! Olha só para Sara! Eu gostaria poder engoli-los inteiros também.”

            Sara tentou replicar, mas era impossível entender ela devido a quantidade de comida na sua boca.

            “Eww, não fale com a boca cheia! Além disso, acho que a conversa está saindo do caminho. Milkit, você fez tudo isso sozinha?”

            “Sim, por quê?”

            “Uau, isso é incrível! Você é como um chefe, Milkit!”

            Milkit desviou o olhar para olhar seus pés, envergonhada pelo elogio repentino. Havia aprendido muito sobre a cozinha no seus muitos anos como escrava.

            Embora Flum fosse uma cozinheira decente, mas isso era algo completamente diferente. Continuou mastigando o pão enquanto pensava muito em que tipo de receita pediria para Milkit ensina-la a seguir.

             “Então, como esse lugar é, Anichidey?” perguntou Flum.

            Sara murmurou algo incompreensível com a boca cheia de comida.

            Flum fez tudo o possível para não rir enquanto repreendia sua amiga. “Sério, Sara, termine de mastigar sua comida antes de falar!”

            Sara engoliu um pouco de comida de um só gole. Flum se preocupou por um momento se ela ia se engasgar, mas ao que parece, havia engolido sem problemas. Ahh, a juventude.

            “De qualquer forma, como estava dizendo, é basicamente uma cidade descomplicada no meio do nada, embora costumava estar no auge devido a todas as ervas que ali eram cultivadas. No entanto, Stude sabe mais que eu.”

            “Quer dizer, tudo isso estava bem antes de nós nascermos, verdade? A repressão veio logo após a guerra entre humanos e monstros.”

            A guerra havia terminado faz uns trinta anos. Havia começado de repente, com demônios invadindo repentinamente terra humanas sem aviso prévio. O exercito real se mobilizou de imediato e conseguiu fazer os invasores retrocederem, embora teve um grande custo para a vista humana.

            A igreja havia participado na guerra e de fato foi muito bem sucedida no campo de batalha, o que havia contribuído muito em reforçar ainda mais os laços entre a igreja e o estado. De fato, a igreja de Origem não era a única religião no reino nesse momento, embora fosse, de longe, a maior. Ainda havia muitos seguidores de varias religiões populares no campo, embora a maioria dessas tradições haviam caído no esquecimento  durante os últimos trinta anos.

            “Então é assim, eu realmente não sei por que a igreja odeia tanto a fitoterapia.”

            “Quer dizer que nem sequer dizem para seus membros por quê?”

            “Dizem que usar os remédios enfraquecem sua fé em deus ou então faz que a magia curativa seja menos efetiva, mas todas essas explicações cheiram mal. Mas de todas as formas, a maioria das pessoas acredita.”

            A roda do carro bateu numa grande rocha, o que fez ele se levantar e logo caiu com uma forte batida, fazendo que Sara caísse do seu assento. Flum vislumbrou uma tatuagem azul na parte posterior do pescoço da garota.

            “Ei, Sara, o que é isso no seu pescoço?”

            “Oh, essa coisa antiga?” Sara passou o dedo pela marca. “Minha cidade natal... Bem, o que costumava ser na minha cidade natal, eu acho, mas agora já se foi... De qualquer forma, costumávamos pertencer a uma igreja diferente nesse momento. Meus pais gostavam muito dela e me deram a marca de um seguidor quando eu era muito jovem. Usaram um tipo especial de pintura nela, então ela nunca desaparece.”

            Flum estava muito familiarizado com essa pintura. Provavelmente era do mesmo tipo que foi usada na sua marca de escravos.

            Antes que tivesse a oportunidade de perguntar o que Sara queria dizer com “costumava ser” sua cidade natal, a garota continuou.

            “Minha cidade natal foi completamente aniquilada pelos demônios, você sabe, faz uns oito anos. Só tinha dós anos nesse momento, então eu realmente não lembro de nada a respeito.” Sara deu um sorriso fraco. “Com María foi mais ou menos parecido, então eu suponho que por isso sempre foi tão amável comigo.”

            “Com María também?”

            Flum e María realmente não falavam muito sobre suas vidas pessoais, então era a primeira vez que ouvia falar disso. Ao menos explicava o porquê ficava tão estranha quando se ficava cara a cara com os demônios. Qualquer um odiaria as criaturas que destruíram tudo o que amava. María era o membro do grupo mais apaixonada pela sua missão de matar o Lorde Demônio, e pelo que ela via, alguém como Flum não tinha nada o que fazer ali e não era digna de ser curada.

            “Os demônios continuam cruzando a fronteira e arrasando assentamentos humanos inteiros, você sabe.”

            “Nesse momento??”

            “Não se fala muito disso nas noticias, mas algumas cidades mais pequenas foram apagadas do mapa.”

            Flum não havia visto nada parecido com isso em nenhum dos jornais nacionais. Isso só podia significa que a igreja tinha sua rede própria de informação não oficial. Levando em consideração o quão disposta Sara estava em compartilhar os segredos da igreja, incluindo a localização das ervas necessárias, era evidente que ela não concordava com todas as suas politicas.

            “Felizmente, pelo menos ninguém morreu. Isso seria imperdoável! Eu daria para esses demônios o que eles merecem.” Sara apertou seu punho com energia.

            Apesar de não lembrar de nada sobre a destruição do seu lugar, a amargura da perda claramente ainda estava com ela, assim como seu desdém pelos monstros que continuavam destruindo o sustento das pessoas sem motivo. Flum entendeu muito bem sua raiva, mas Sara disse algo que parecia estranho: como foi que os demônios aparentemente destruíram cidades inteiras sem matar ninguém?

            Depois de tudo, Flum conhecia o poder dos Demônios Chefes de perto. Era praticamente inconcebível que pudessem dar um golpe desleixado em uma pequena vila sem incinerar todos os que vivam nela. Só poderia ter sobreviventes se tivessem a deliberada intenção de, em primeiro lugar, não matar ninguém.

            Ela não se atrever a perguntar a Sara, alguém que havia perdido tudo o que conheceu nas mãos dos monstros, mas Flum tinha curiosidade de saber por que os demônios continuariam com esses ataques. Bem, talvez a razão fosse muito obvia... os humanos estavam invadindo continuamente seus territórios. Talvez destruir essas cidades era sua forma de se vingar.

            Sara mordeu com força o pão e arrancou outro pedaço. “Mas ainda tenho muito treinamento que fazer antes de poder lutar contra eles.”

            “Falando disso, você é muito forte, Sara. Realmente derrubou esse ladrão no Distrito Oeste.”

            “Eh, formamos uma grande equipe contra esses caras. De qualquer forma, posso repetir?”

            “Isso não seria legal.”

            “Não vejo nada de mal nisso.”

            “Se você diz, Ama. Aqui está, Sara.”

            Sara assentiu com entusiasmo e sorriu diante da comida que foi oferecida antes de dar outra mordida no pão. Ela resmungou algo com a boca cheia de comida, que Milkit entendeu de alguma forma quando Sara indicou para ela usar Escanear pra verificar suas estatísticas.

            “C-Certo. Escanear!”

            O corpo inteiro de Milkit se sacudiu levemente pelo nervosismo puro por usar seu primeiro feitiço mágico. Ela havia aprendido ele de noite, quando Flum aproveitou a oportunidade para ensina-lo depois que terminaram com sua pratica de leitura. Apesar dos receios, Milkit só demorou aproximadamente uma hora pra o entender. Depois de tudo.

            Demorou mais algumas horas para terminar a aula de leitura naquela noite. Mesmo que elas estivessem apenas repassando algumas palavras e números, Milkit estava completamente fascinada com a atividade. Havia feito Flum sorrir ao ver a garota tão cativada com algo.

            Conseguir usar Escanear permitiu a Milkit ver coisas que geralmente eram invisíveis a olho nu. Estava tão emocionada pela perspectiva que começou a usa-lo sobre qualquer coisa. Felizmente, uma vez que você aprendesse um feitiço, você basicamente saberia disso pelo resto da vida.

            Flum sorriu tranquilizadoramente em uma tentativa de acalmar Milkit. “Não se preocupe, você tem isso.”

            Pareceu ter o efeito desejado, já que notou que o corpo de Milkit se relaxava visivelmente e suas pupilas começavam a brilhar. O olhar de Milkit ficou distante enquanto se concentrava nas palavras e nos números que apareciam no canto da sua visão.

            Flum riu para si mesma com essa visão. Decidiu lançar Escanear em Sara para ver o que Milkit estava olhando.

            Sara Anvilen

            Afinidade: Luz.

            Força: 285

            Magia: 301

            Resistência: 123

            Agilidade: 227

            Percepção: 133

           

            Ela estava, em uma palavra, surpresa. Esse tipo de estatísticas era incomum para uma menina de dez anos. Com um valor total de estatísticas em 1.069, apenas isso levava Sara próxima ao nível de um aventureiro de Rank C. Certamente ela também melhoraria com a idade.

            Flum estava começando a entender porque a igreja estava deixando ela sair impune: a garota tinha muito potencial.

            De repente, consciente de si mesma diante a presença de uma jovem tão poderosa, Flum equipou sua manopla e convocou sua espada antes de usar Escanear sobre si mesma.

           

            Nome: Devorador de Almas Zweihänder

            Nível: Épico

            [Esse equipamento reduz a força do seu usuário em 320]

            [Esse equipamento reduz a magia do seu usuário em 99]

            [Esse equipamento reduz a resistência do seu usuário em 297]

            [Esse equipamento reduz a agilidade do seu usuário em 183]

            [Esse equipamento reduz a percepção do seu usuário em 111]

            [Esse equipamento faz que o corpo do usuário derreta]

 

            Nome: Manoplas de Aço Ensanguentadas

            Nível: Raro

            [Esse equipamento reduz a força do seu usuário em 82]

            [Esse equipamento reduz a magia do seu usuário em 101]

           

            Isso deu um valor de estatísticas total de 1, 193, apenas superando a Sara. Isso fez ela se sentir melhor. Curiosamente, parecia que a maldição do Devorador de Almas ficou mais poderosa, embora só um pouco, depois que ela matou anzu com ela.

            No entanto, quem ficaria mais forte primeiro era uma incógnita. Pra ser justo, na verdade não era uma competição. Flum sabia que não deveria pensar tanto nisso, mas algo na forma em que Sara a admirava fazia que ela desejasse ser alguém a quem valesse a pena admirar.

            Agora era a vez de Sara de usar Escanear sobre ambas. “Vejo que suas roupas são apenas itens comuns. Ela não tem encantamentos, têm?”

            “Suponho que eu poderia me permitir comprar roupas estranhas se eu não me preocupasse muito com a aparência.”

            “Você tem um ponto. A maioria das peças realmente poderosas são bastante vulgares.” De qualquer forma, os méritos e os deméritos da moda não seriam realmente registrados em Escanear. Sara olhou para si mesma e pareceu encolher. “No entanto, você parece bem, Flum. Olha essa coisa idiota que eu tenho que vestir. Pareço como uma criancinha!”

            “Tudo no seu devido tempo, tudo no seu devido tempo.” Brincou Flum com a jovem, mas para ser honesta, ela mesma carecia de curvas femininas. Ela olhou seu próprio peito e suspirou para si mesma.

            Sara, que nunca ficou desanimada por muito tempo, centrou sua atenção em Milkit. “E Milkit... Estou com ciúmes! Toda essa renda babada e a fita no seu peito... Essa roupa é fofa ao máximo! Talvez algum dia eu possa vestir algo tão bonito como isso.”

            Flum tentou imaginar Sara vestida de empregada. Ficaria fofa, mas é claro, mas talvez um pouco parecido com uma boneca para o gosto de Flum. Voltou sua tenção para Milkit.

            “Milkit escolheu isso sozinha, você sabe. Eu acho que ficou ótimo. Não sei o que é, mas ver ela ao meu lado realmente me anima.”

            “Isso é verdade? Queria eu ter alguém assim.”

            Flum abraçou Milkit com força. “De maneira nenhuma! Ela é a minha empregada particular, tenha isso em mente.”

            Milkit se moveu incomoda, ainda sem estar acostumada em ser elogiada, e muito menos que a abraçassem. Olhou para Flum, como se pedisse que ela tivesse piedade. “Talvez vocês duas estejam brincando comigo?”

            Flum riu. “Aww, era tão obvio?”

            “Não, Milkit que é tão perspicaz.”

            “É verdade! Eu acho que posso me gabar um pouco da minha empregada.”

            As bandagens de Milkit se moveram quando estufou suas bochechas. “Por favor, não me provoquem assim...”

            Embora ainda tentasse ignorar qualquer tentativa de ser elogiada, Milkit começou a disfrutar dos elogios. Ainda era vergonhoso para ela, claro, mas sua perspectiva estava mudando consideravelmente. Flum e ela haviam ficado muito próximas nos poucos dias que haviam vividos juntas.

            Sara olhou para as duas e sorriu. “Aww, eu realmente estou com inveja das duas.”

            Lembrou-se de María, a mulher que havia sido como uma irmã mais velha para ela. Sabia que María estava ocupada fazendo um trabalho importante e que não estava em condições de tentar exigir seu tempo. E, no entanto... ver o quão próximas são Flum e Milkit fez que um sentimento de solidão brotasse dentro dela.

________________________________________________________________________________________

            Embora a viajem fosse muito longa e tediosa, o grupo passou o tempo brincando entre elas. Quando Stude finalmente acordou, ele manteve as três garotas entretidas com historias sobre Anichidey, algumas piadas mais pesadas e outros conversas com temas variados.

Aproximadamente na metade do seu destino, pararam em uma cidade no caminho para descansar e jantar, onde uma iguaria local foi oferecida, e descansar durante a noite. Depois de controlar os cavalos e se assegurar de que o clima era adequado para viajar, partiram novamente na manhã seguinte. Foi ao anoitecer que eles finalmente alcançaram seu destino... Anicihdey.

Os quatro saíram da carroça, que continuou sua viajem até a cidade seguinte. Voltaria para busca-los em três dias. Se não encontrassem as ervas quando chegasse, elas teriam que programar uma coleta diferente, mas Flum estava certa de que já estariam prontas até então.

            Flum, Milkit e Sara olharam o povoado que estava diante delas. Havia muitas casas ao redor, embora só algumas tinha luzes nas janelas. As ruas também estavam completamente escuras, até mesmo a que deveria ser a rua principal. Tiveram que pegar suas lanternas, originalmente desenhadas para sua expedição na caverna, só para andar na cidade.

            Stude caiu na gargalhada diante da surpresa. “Gahahaha1 Muito impressionante, não? Eu disse para vocês que não há nada aqui!”

            “Realmente é uma cidade fantasma.”

            “As pessoas... as pessoas realmente vivem aqui, verdade?”

            “Assim é. Umas poucas dezenas, talvez? Mas são todos velhos, então eu imagino que toda a cidade estará vazia em mais ou menos uma década.”

            Seu tom continuava muito alegre. Ou não estava preocupado por isso, ou já havia aceitado o destino da cidade.

            “Como pode uma pousada ganhar dinheiro em um lugar como esse?”

            “Geralmente está fechada, mas voltam a abrir cada vez que um viajante passa pela cidade. De qualquer forma, só me siga. Ao menos as habitações são muito grandes e as camas são confortáveis.”

            Stude partiu com as três garotas atrás de si. Eles passaram por janela após janela, todas fechadas durante muito tempo, antes desviarem pela rua principal até o que parecia ser uma zona residencial.

            “No passado, quando era pirralho, essa rua era cheia de vida.”

            “Suponho que isso é o que acontece quando o povoado perde sua principal fonte de renda.”

            “Estou impressionado de que tenha conseguido aguentar durante trinta anos, na verdade.”

            “Pode dizer isso o quanto quiser. E mesmo se não há nada aqui, você não pode mudar onde estão suas raízes. Seu lar continua sendo seu lar, sabia? Então as pessoas só querem continuar suportando, o que suponho que é o que mantém a cidade funcionando.”

            Essa vez, a tristeza se apoderou do rosto de Stude enquanto olhava as casas vazias e abandonadas. Mesmo se ele tivesse aceitado seu destino, tinha que doer ver sua cidade natal assim.

            O grupo caminhou durante algum tempo antes de parar em frente a uma das poucas casas com uma luz acesas dentro.

            “Vou entrar e falar com mamãe rapidamente. Garotas esperem aqui.”

            As três esperaram diligentemente fora do que aparentemente era a casa de Stude. Segundo o que ele disse durante a larga viajem até aqui, seu pai havia adoecido e faleceu faz uns dez anos. Foi muito trágico, especialmente por que a doença do seu pai poderia ter sido curada se as ervas que uma vez cresciam em abundância no campo ainda estivessem disponíveis.

            Deste então, sua mãe teria vivido sozinha enquanto Stude foi tentar a sorte na capital. Havia funcionado muito bem durante algum tempo, mas agora que estava envelhecendo, as coisas estavam ficando difíceis para ela. De fato, sua mãe foi uma das razões pelas que decidiu fechar sua pousada.

            Uns cinco minutos depois, Stude apareceu na porta com sua mãe. Depois de um breve períodos de apresentações, levou o grupo para a pousada localizada ao lado.

            “Uau, isso é muito impressionante.”

            O edifício era um lugar enorme e provavelmente poderia hospedar toda a população de Anichidey se surgisse a necessidade. Era difícil imaginar que esse lugar estivesse completamente reservado durante os anos prósperos da cidade, e até mesmo teve que recusar cliente.

            “Não se preocupe, mantenho o lugar organizado.” A mãe de Stude abriu a porta principal e fez o grupo passar antes de acender uma vela que trouxe da sua casa para levar ela até suas habitações. O edifício havia sido construído a décadas, muito antes da criação de conveniências modernas, como lanternas mágicas, mas o suave resplendor da luz das velas dava uma sensação muito calorosa.

            “A habitação da direita tem uma cama de casal e a da esquerda tem duas camas individuais. Qual será?”

            As três garotas votaram e rapidamente decidiram pela cama de casal. Ao abrir a porta, foram recebidas por uma habitação impecavelmente limpa que era muito maior do que seria esperado de uma cidade desse tamanho. Era difícil de acreditar que não foi usada durante muito tempo, graças ao impecável trabalho de limpeza. Os velhos hábitos devem ser difíceis de ser deixadas para a mãe de Stude.

            “Podem usar a cozinha para cozinhar qualquer comida que tenham trazido, se vocês desejarem.”

            “Há algum lugar para comprar mantimentos?”

            A mãe de Stude ofereceu um sorriso triste diante a pergunta de Flum. “Há uma velhinha que tem uma loja próxima à rua principal, mas duvido que esteja aberta a essas horas. Por não vem na minha casa e eu preparo algo para vocês?”

            Sara apertou as mãos com forças, seus olhos brilharam. “Você realmente vai fazer o jantar para nós?”

            Um irônico sorriso apareceu no rosto da mãe de Stude diante a emoção de Sara.

            “Terei que pedir que paguem, mas é claro. Infelizmente, não posso oferecer um banquete de graça, mesmo para garotas tão encantadoras como vocês.”

            Depois de descrever brevemente as instalações do hotel, entregou para Flum a chave da sua habitação. Ela e Sara correram para deixar suas maletas. Uma vez que isso esteve fora do caminho, as duas garotas se olharam nos olhos na frente da cama.

            “Você esta pronta?”

            “Sip!”

            Elas saíram correndo e se jogaram de cabeça na cama.

            Pwoomf!

            Elas afundaram profundamente no edredom macio e cheio de penas e ficaram ali um pouco, disfrutando do suave abraço.

            “Hmm?” Milkit ergueu os olhos de onde estava ocupada arrumando suas coisas para observar em confusão o comportamento das duas.

            Flum murmurou através do pesado edredom, animando Milkit a se juntar a elas. Se essa a vontade da sua ama, não tinha outra opção além de agrada-la. Milkit se aproximou da cama em um trote lento antes de subir nela.

            Foi tudo uma cena.

            Milkit ainda não tinha ideio do que estavam fazendo, mas podia sentir uma sensação de animo, talvez até mesmo diversão, bem dentro dela. Sua apagada voz ressoou através do edredom. “Posso te perguntar qual é o objetivo disso?”

            “Você só não se entregar toda vez que encontra uma cama confortável?”

            “Bem, sim!”

            “Então é por isso?”

            Flum suspirou. Ainda não fazia nenhum sentido para Milkit, mas pensou que não tinha que ter sentido sempre que fosse divertido.

            Finalmente as três garotas sentaram na cama e começaram a conversar sobre qualquer coisa que viesse a mente enquanto lá fora o sol se escondia no horizonte.

            Justo quando começaram a ficar com fome, Stude apareceu para chamar as garotas para jantar. Sugeriu que talvez quisessem banhar na casa da sua mãe, então também levaram uma muda de roupa.

________________________________________________________________________________________

            A mesa foi servida com um grande banquete, ou ao menos o que poderia ser considera um banquete em uma cidade tão pequena, com vários alimentos reconfortantes feito com verduras de origem local. Havia tanta comida que as cinco pessoas à mesa mal conseguiram comê-la. A mãe de Stude claramente havia feito um esforço a mais nisso, já que era a primeira vez que tinha convidados em muito tempo.

            Flum estava preocupada em ofender a amável mulher deixando algo sem comer, mas, para sua surpresa, Sara devorou a comida em uma velocidade absurda. Mesmo Flum, cujo apetite havia aumentado graça a todo o seu exercício recente, se surpreendeu pela quantidade que a garota devorou. Enquanto Milkit fazia seu caminho através de uma batata, uma colherada de cada vez, Sara conseguia limpar um parto inteiro.

            A mãe de Stude pareceu surpresa, mas sorriu calorosamente ao vê-la. “Stude era muito comilão quando era jovem, mas não como você, querida.”

            Depois do jantar, incluindo uma porção generosa de sobremesa, o estomago de Sara estava visivelmente mais gordo que antes de comer.

            “Uau, eu estou cheia.”

            “Você tem dois estômagos ou algo assim, Sara?”

            “Oh, vamos, não comi tanto...”

            “Você certamente comeu uma quantidade muito impressionante.” Mesmo Milkit não conseguiu superar a grande quantidade de comida que Sara devorou.

            Depois que ajudaram a mãe de Stude a lavar os pratos, chegou o momento de banhar. Diferente da pousada, infelizmente, o banheiro aqui era grande o suficiente para uma pessoa por vez. Sara parecia decepcionada por isso e fez beicinho.

            “Droga, eu tinha muita vontade de nós banharmos juntas como se fossem férias de verdade.”

            Para ser justo, isso não era para ser um período de férias.

            Depois que as três banhassem por turnos, se despediram de Stude e sua mãe antes de voltarem para a pousada, onde vestiram seus pijamas e deitaram mais uma vez na cama.

            “Então é agora que devemos falar sobre nossas vidas amorosas, não? Quer dizer, isso é o que fazem nas festas do pijama.”

            A exuberância juvenil de Sara fez que Flum sentisse um pouco mais velha. Já que nenhuma delas tinha uma vida amorosa da que falar, essa conversa finalmente não levou a lugar nenhum. No entanto, Sara não estava disposta a admitir a derrota e provou uma variedade de outros temas durante um tempo antes que o cansaço da sua longa viajem finalmente a alcançasse e dormisse.

            “É curioso como ela pode deixar de ser tão hiperativa e adormecida em questão de segundos.”

            “Ela não se segura em tudo o que faz, suponho.”

            “Tem razão. Espero que se apegue a essa paixão a medida que envelheça.” Flum começava a parecer uma anciã.

            “Você também é muito jovem, Ama.”

            Flum riu um pouco disso. “Só ver Sara já faz eu me sentir velha, sabe? De qualquer forma, será melhor que as vovozinhas também durmam um pouco.”

            Apesar da ser relativamente cedo, estendeu a mão para apagar a luminária. Depois de uns minutos, a voz de Milkit chamou timidamente da escuridão.

            “Umm... Ama?”

            “Sim?”

            “Você tem certeza de que eu não deveria estar dormindo no chão?”

            Flum levou a mão para a cara, irritada. “Você continua fazendo perguntas como essa depois de tudo o que nós passamos juntas?”

            Aparentemente os velhos costumes demoram morrer. Bom, ainda restava uma carta na manga para usar contra Milkit. Flum estendeu a mão e agarrou a mão da outra garota, entrelaçando os seus dedos.

            Milkit ofegou levemente.

            “Agora você não pode fugir, não? Agora durma um pouco.”

            Um olhar de preocupação se apoderou da cara de Milkit antes que finalmente se rendesse. Suas vendas rangeram ligeiramente enquanto seu rosto se suavizou em um sorriso. Falou quase que em um sussurro antes de fechar seus próprios olhos para dormir.

            “Obrigado, Ama.”

________________________________________________________________________________________

            “Acorda dorminhoca!!”

            Na manhã seguinte, uma Sara muito animada acordou Flum. Depois de ter passado a maior parte da sua vida em uma igreja, a garota estava acostumada a viver com um horário estrito... que incluía acordar com a saída do sol.

            Era cedo até mesmo para Milkit, que estava acostumada a começar o dia antes que a maioria. No entanto, tão rápido como acordo, instantaneamente virou para Flum para saudar sua ama. Flum esfregou os olhos numa tentativa desesperada de despertar.

            Uma vez que se vestiram e ficaram prontas, as garotas saíram para procurar alguns alimentos e reunir a informação que conseguissem. Falando francamente, a cidade era ainda mais deprimente agora que estava completamente iluminada pelo sol da manhã. Estava claro que a rua principal alguma vez havia sido um lugar cheio de lojas movimentadas, mas agora aquilo era apenas uma memória distante. A maioria das vitrines permanecia vazias, e suas únicas marcas de identificação eram os letreiros que se deterioravam lentamente e marcavam seu negocio.

            As garotas caminharam pela rua, olhando os edifícios vazios no caminho enquanto buscavam um lugar que estivesse realmente aberto. Finalmente encontraram uma loja aberta que vendia itens essenciais para fazer negócio próximo de onde o condutor da carroça havia deixado elas.

            Flum deu uma espiada em uma das lojas, encontrou uma mulher mais velha de óculos sentada atrás do balcão lendo um livro. Levou alguns minutos até finalmente notar Flum.

            “Oh, já faz muito tempo desde que vi um rosto desconhecido. É você, por casualidade, um cliente?”

            Sara interveio alegremente antes que Flum pudesse responder e correu até o balcão. “Viemos da capital!”

            “Da capital, eh? E vejo que estão todas vestidas com um traje muito interessante. Já faz um tempo desde a ultima vez que vi um espetáculo. Infelizmente, não sobraram ervas para colher.”

            “Entendo que não estão sendo colhidas, mas suponho que ainda estão crescendo em algum lugar.”

            A mulher mais velha suspirou. “É verdade. Ainda crescem nas cavernas fora da cidade. Infelizmente o lugar esta infestado de monstros e ninguém se atreve a se aproxima muito. Não é um lugar para um grupo de jovens garotas como vocês.”

            Flum se aproximou mais. “Que tipos de monstros vivem ali?”

            “Como eu vou saber? Nunca os vi, mas pelo que eu escutei são muito assustadores. Nenhum dos aventureiros que foram nas cavernas procurar erva voltaram.”

            “Nem mesmo um?”

            A mulher mais velha desviou o olhar.

            “Nem mesmo um único. De fato, nessa manhã mesma um grupo de homens passou perguntando pelas cavernas. É um pouco estranho ter dois grupos no mesmo dia. De qualquer forma, provavelmente já estão mortos.”

            Havia certa sensação de finalidade na forma que falava que fez que o silêncio caísse sobre as três garotas. Que tipo de criaturas estranhas habitavam a caverna, era uma incógnita, mas a essas alturas não estavam dispostas a renunciar às ervas kialahri. Não depois de chegar tão longe.

            Depois de comprar um pouco de comida, voltaram para a pousada para preparar o almoço e ir para a caverna. Feito isso, Flum e Sara pegaram suas malas e se preparam para ir. Essa vez Milkit para trás, pois se eles encontrassem problemas na caverna, ela apenas se colocaria em perigo.

            Ela parecia muito preocupada enquanto se despediam. “Você esta certa sobre isso?”

            “Mas...”

            “Não se preocupe, você sabe, eu também vou!”

            “Assim é. Com nós duas tudo vai ficar bem.”

            “Entendo.” Milkit assentiu, embora não parecia estar convencida.

            “Entendo sua preocupação, Milkit, mas é mais difícil fazer meu trabalho se você não pode se despedir de mim com um sorriso.”

            “Ama, essas palavras são terríveis.”

            Flum riu. “Oh, eu sei, acredite em mim. Enfim, estamos indo!”

            “Nos vemos!”

            As duas saudaram alegremente e continuaram seu caminho.

            Milkit as viu ficarem menores enquanto desapareciam ao longe. Seu coração acelerou quando sentiu uma nuvem de preocupação pairar sobre ela, mas era o dever de um escravo ficar para trás e esperar pacientemente o seu amo.

            Finalmente esboçou um sorriso e saudou Sara e Flum. “Boa sorte, Ama, Sara!”

            Escutar isso fez com que Flum sorrisse.

________________________________________________________________________________________

            Aproximadamente uma hora depois de sair da cidade, a carroça levou Flum e Sara pela floresta escura e premonitória antes de finalmente para na entrada de uma caverna. Foi claramente ampliada por ferramentas feitas pelo homem, provavelmente remonta à época em que a colheita de ervas estava no apogeu. No entanto, assim como havia dito antes a dona da loja, parecia abandonada, a jugar pelo musgo acumulado.

            Flum respirou fundo varias vezes numa tentativa de acalmar seus nervos. Mesmo a normalmente alegre Sara parecia apreensiva, com o rosto tenso, enquanto estavam na sinistra entrada da caverna.

            Infelizmente, não podiam ficar aqui o dia todo. Depois de ascender suas lanternas, as duas cruzaram a entrada da caverna e se adentraram mais nas suas profundidas, com cuidado para não escorregar no chão musgoso.

            Sara falou quase em um sussurro, como se preocupada que alguns monstros que espreitavam por perto pudessem ouvi-la. “É muito mais claro do que eu pensei que seria.”

            Flum parou para olhar uma planta que crescia em um dos pontos iluminados por um tênue raio de luz. Provavelmente encontraria a kialahri crescendo em algum lugar similar. Apagou a lanterna e olhou os arredores. A caverna parecia surpreendentemente benigna, mas supôs que chamaria muito menos atenção com as lanternas apagadas.

            Sara rapidamente seguiu seu exemplo e as duas adentraram na caverna tenuemente iluminada, às vezes tendo que atravessar corredores estreitos, enquanto outras vezes se encontravam em habitações cavernosas. A julgar pelas marcas nas paredes, essas cavernas haviam sido expandidas pelas mãos de muitos homens.

            De repente escutaram um grunhido surgir das profundezas da caverna.

            “Nnnngroooaaaawr.”

            Flum virou para Sara e levou um dedo aos lábios. Sara assentiu em resposta e conteve a respiração. Ambas as garotas ficaram quietas por um momento e escutaram com atenção.

            Foi então quando o escutaram: passos de uma variedade decididamente não humana.

            Avançaram pouco a pouco, com cuidado de não fazer barulho, até que Flum chegou a uma curva do túnel. Inclinou-se para frente o suficiente para olhar ao redor da esquina.

            Mais a frente, viu uma criatura humanoide musculosa de pele verde, de uns três metros de altura. Tinha chifres brancos que sobressaiam da sua cabeça.

            Sara se inclinou para sussurrar no ouvido de Flum. “Parece um ogro, um monstro Rank C.”

            Daqui, com as presas encharcadas de saliva, brilhando na escuridão, pareciam os demônios sobre os quais você lia nos contos de fadas infantis. Flum lançou Escanear para comprovar suas estatísticas.

 

Ogro

Afinidade: Terra

Força: 608

Magia: 9

Resistência: 623

Agilidade: 136

Percepção: 81

 

            Assim como ela havia adivinhado, suas habilidades se centravam na força e na resistência. Sem ataques mágicos com os quais se preocupar, Flum pensou que deveria ser muito fácil acabar com um ogro, mesmo se era Rank C. Ao menos, seria muito mais fácil que a batalha contra o anzu e seus repentinos ataques de vento.

            Além disso, dessa vez eram dois contra um, e Flum era ainda mais forte desde a ultima grande batalha. Sentia-se muito segura das duas possibilidades, mas teria que se assegurar de não acertada. Um golpe poderia causar um dano real com uma estatística de força tão alta. Se o ogro acertasse no lugar correto, o golpe poderia resultar fatal.

            “Não será complicado.” Já havia explicado para Sara como funcionavam suas estatísticas na noite anterior. Evidentemente, Sara ficou chocada com essa revelação, mas havia visto os efeitos por si mesma quando elas estavam lutando contra os ladrões no beco. Flum esperou até que o ogro lhe desse as costas antes de dar sinal verde. “Esta bem... Vamos!”

            As garotas saíram correndo das sombras e se aproximaram da besta.

            Entre o fio do Devorador de Almas de Flum e a maça de Sara, o ogro nunca teve oportunidade, seus músculos e ossos colapsaram diante os fortes golpes. Sara lançava todo seu corpo em cada golpe, fazendo que a maça aterrissasse ainda mais forte do que Flum havia imaginado. Era muito assustador para uma garota de dez anos.

            O ogro uivou de agonia e se agitou, o que deixou ainda mais aberturas para atacar. Lenta mais seguramente, o monstro foi se debilitando cada vez mais, até que Flum lentamente atravessou o coração com a espada. Quando puxou a espada encharcada de sangue, o ogro caiu sem vida não chão.

            As duas trabalharam juntas para rolar o ogro e cortar suas presas. Conseguiriam um bom preço no mercado aberto. Claro, estavam aqui pelas ervas, mas era de mais obter um pouco de lucros enquanto o faziam.

            Flum limpou as presas e as jogou em sua bolsa antes de continuar caminhando até as cavernas. Escutavam os gritos de vários monstros de vez em quando enquanto avançavam, mas o complexo da caverna aparentemente era muito maior do que qualquer uma delas havia previsto, por que não encontraram nenhum. A julgar pelos sons dos seus gritos, os monstros ainda estavam a uma distância considerável. No entanto, mesmo se si encontrassem com um monstro, Flum se sentia razoavelmente segura de que ela e Sara poderiam derrota-lo com relativa facilidade.

            Enquanto avançavam pelos tuneis labirínticos, usaram tinta para marcar as paredes para as ajudar a encontrar o caminho de volta. A caverna também começou a ficar mais clara a medida que avançavam.

            “Me pergunto se estamos voltando para a entrada?”

            “Não sinto que demos uma volta grande, então talvez haja outra entrada para a caverna.”

            Depois de dobrar outra esquina, as duas descobriram a fonte da luz.

            “Então era isso...”

            “Sabe, estava pensando que não havia maneira de que crescessem suficientes ervas aqui para manter prospera uma cidade desse tamanho, mas agora tudo faz sentido.”

            Diante delas, o teto havia caído e a luz do sol caia, pelo buraco, em cascata no chão. Um pequeno riacho passava borbulhando, alimentando uma grande variedade de plantas. Tudo estava tão verde que era fácil esquecer que tecnicamente ainda estavam em uma caverna.

            “É como um jardim interno.”

            “Se não estivéssemos aqui em uma missão, só essa paisagem já faria valer a pena a caminhada.”

            Mas estavam em uma missão e não havia tempo sentar e se divertir. Se esse lugar poderia portar uma variedade tão grande de ervas e arbustos, então tinha sentido que as kialahri também estivessem por perto. Flum imediatamente começou a caminhar, buscando sinais da erva.

            No entanto, Sara permaneceu fixa no seu lugar, com uma expressão de preocupação estampada no seu rosto. “Eu não sei sobre isso... está tudo um pouco tranquilo, não acha?”

            O ar estava limpo e a claridade era agradável e calorosa. Se as plantas cresciam tão bem aqui, era logico que também houvesse vida animal. Isso fez que Flum também parasse de andar. Agora que Sara mencionou, por que não havia animais em um lugar perfeitamente adaptado a vida?

            O som da agua borbulhando e os barulhos das folhas no vento começaram a adquirir um tom sinistro.

            “Mas eu tenho certeza de que podemos encontrar kialahri por aqui. Temos que olhar.”

            “Suponho, mas não quero ficar aqui por muito tempo, tudo bem?”

            “Bem, vamos nos apressar.”

            As duas garotas assentiram e imediatamente se separaram para procurar kialahri no meio de toda a vida vegetal.

            Um minuto depois, o silencio foi interrompido por um barulho ensurdecedor. Flum ficou tensa, girando na direção que vinha o barulho. O caminho que haviam tomado para chegar ali agora estava completamente obstruído por rochas derrubadas. Dois homens foram brevemente visíveis através dos escombros antes de encherem, ambos com sorrisos sinistros em seus rostos.

            “Que merda está acontecendo aqui?”

            “São os bandidos de Dein?! Mas o que diabos estão fazendo, nos seguiram até aqui?!”

            A melhor suposição de Flum era que esses homens faziam parte do mesmo grupo que haviam tentado roubar a bolsa de Leitch. Provavelmente estavam aqui para vingar os seus camaradas que agora estavam sentados na prisão da igreja. No entanto, mesmo se esse fosse o caso, parecia absurdo que as seguissem até Anichidey só para se vingarem.

            Assim que o deslizamento de rochas parou, Flum se aproximou para inspecionar as pedras que bloqueavam seu caminho. “Não é impossível, mas acho que será muito difícil mover algo tão grande a mão.”

            “Se tentarmos abrir caminho a força, provavelmente só ficara pior. Talvez nós devêssemos buscar outra saída?”

            “Você provavelmente tem razão. Desculpa te envolver nisso, Sara.”

            Sara apertou o punho e o agitou. “Você sente? Que coisa? É esse idiota do Dein quem comanda os aventureiros do Distrito Oeste como um chefe do crime que tem a culpa aqui! Quando nós sairmos daqui, vou ensinar para ele uma ou duas coisas!”

            Flum si sentiu aliviada ao ver que a situação não tinha desanimado a Sara. Ainda assim. Mesmo assumindo que havia outra saída em algum lugar, levaria algum tempo a encontrar, levando em consideração o tamanho dessas cavernas.

            “Por que não procuramos primeiro as ervas? Então poderemos...”

            Antes que Flum pudesse terminar seu raciocínio, escutou o som de algo rangendo através vegetação. Rapidamente desviou o seu para os arbustos.

            “O que é?”

            “Acho... acho que algo acabou de se mover. Poderia ser um monstro.”

            Ambas as garotas ficaram paralisada, olhando fixamente na direção de onde vinha o som. Finalmente, uma figura enorme de pele verde apareceu de um grupo de árvores.

            “Outro ogro! Não tem problema!” Declarou Sara.

            No entanto, Flum permaneceu em silencio.

            “...Flum?”

            “Espera.”

            Algo parecia não estar bem. O que ia até elas era um ogro, disso estava segura. No entanto, havia algo diferente na cabeça desse ogro que o distinguia do que haviam matado antes.

            Flum perdeu de vista a criatura por um momento enquanto se movia entre as árvores. Quando voltou entra na sua visão, o que ela viu desafiou qualquer crença.

            “O que é essa coisa?!”

            O ogro não tinha rosto.

            O interior da sua cabeça havia sido esculpido e algo estava crescendo em seu lugar; uma mistura de carne e musculo, com um coração e vários órgãos pulsando e se retorcendo ao redor da cavidade em um movimento no sentido das agulhas do relógio. Sangue espesso e vermelho brotou do orifício, caindo em cascata pelo pescoço e pelo peito do ogro, dando um tom escuro a sua pele verde.

            “Isso não é um ogro, verdade? Quer dizer, é o corpo de um ogro, mas...”

            “Use Escanear!”

            Sara tinha razão. Escanear era a forma mais rápida de averiguar o que enfrentavam.

            Flum usou o feitiço e rapidamente deu uma olhada nos detalhes.

            EnCOontRaDo

            O? Quem... por quê: você foge?

            Musculoso, você consegue: 7 pecados

            MaGia: Re Re Re Re

            Resistência-tência: 9 mortes fixas, pegue

            Agilidade: Uma única oportunidade

            MORTES: 14

            CUMPRA SEU DEVER FLUM APRICOT

           

            Nada disso tinha sentido, mas Flum sabia que independente do que fosse, era perigoso. Ela sentiu como se uma mão gelada tivesse entrado em seu peito e havia se apoderado do seu coração.

            “O-O que é essa coisa? Nunca tinha visto algo assim!” Sara também havia escaneado a criatura e estava igualmente aterrorizada pelo que viu.

            Falhas como essa não era muito fora do comum quando um feitiço dava errado ao ser lançado, mas era pouco provável que isso fosse o caso de algo tão simples como Escanear. Especialmente para duas pessoas que haviam usado separadamente.

            “Por o seu nome estava no status desse monstro?”

            “Eu não sei!”

            O ogro estava dando voltas ao longe, cuidando dos seus próprios assuntos, até que lançaram Escanear sobre a criatura. Imediatamente girou o seu pescoço, como se a massa de carne rasgada de onde devia estar seu rosto pudesse vê-las. A forma redonda se estendeu rapidamente para os lados, formando um oval, quase como se estivesse sorrindo para elas.

            Levantou um punho verde no ar. Flum podia sentir que as coisas estavam a ponto de mudar para elas.

            “Acho... acho que será melhor corrermos.”

            O monstro acertou com força o chão com o punho e Flum sentiu que o chão começava a se deformar abaixo dela.