Capítulo
08:
A
Dualidade da Pureza e a Mulher da Luz.
“Obrigado!
Você não sabe o quanto me ajudou!”
Uma
vez que Flum devolveu a bolsa para o seu dono, o homem pegou as mãos dela e
apertou-as com entusiasmo, as lagrimas surgiram nos cantos dos seus olhos.
Olhando de perto, ele tinha uns 30 anos, embora sua postura corcunda e as
profundas rugas no seu rosto o faziam parecer muito mais velho. De qualquer
maneira, definitivamente não deveria estar sozinho no perigoso Distrito Oeste.
“Sinto
muito, parece que esqueci meus modos. Meu nome é Leitch Mancathy. Eu administro
uma loja simples nas proximidades.” Se apresentou como um cavaleiro e terminou
com uma reverencia cortês. A qualidade da sua bolsa, sua roupa e seu
comportamento lhe davam um ar de refinamento.
Também
havia algo no seu nome, Mancathy. Flum sentiu que já havia o escutado antes, e
também recentemente, mas não podia se lembrar.
Milkit
tocou Flum no ombro e si inclinou para lhe sussurrar no ouvido. “Esse símbolo
na bolsa. Não é o mesmo que o do restaurante onde jantamos?”
Antes
de voltar para o Distrito Oeste, fizeram uma parada na grande praça comercial
que vende alimentos frescos. Agora que Milkit mencionou...
“Oh,
é verdade! Te conheço, de Shoppe Mancathy? Mas... aquele lugar não é nem remotamente
pequeno!”
O
homem, no entanto, se manteve humilde. “Ainda é um trabalho em progresso,
veja.”
Shoppe
Mancathy era a maior loja de toda a capital e era frequentada por quase todos
os que ali viviam. Flum não podia entender o por que que o dono de um
estabelecimento tão famoso falava com tanta amabilidade e humildade a um
simples escravo.
“Posso
te perguntar o seu nome, senhorita?”
“Eu,
eh, sou Flum. Sou uma aventureira aqui no Distrito Oeste. E essa aqui é
Milkit.”
Milkit
fez uma cortês reverência. “Estou aqui para apoiar a minha Ama.” Realmente
parecia estar adotando o papel de uma criada, como se estivesse inspirada pela
sua nova roupa.
“Flum
e Milkit, sim? É uma verdadeira honra. Agora, se posso ser atrevido, acho que
eu já vi o seu rosto em algum lugar, senhorita Flum.” Leitch levou a mão ao
queixo como se estivesse perdida em seus pensamentos. Flum sentiu como se o
coração fosse sair pela boca.
A
jovem freira assentiu com a cabeça. “Você sabe, estava pensando exatamente o
mesmo.”
Flum
se perguntou por um momento se haviam ouvido falar dela antes. Depois de tudo,
ela costumava ser um herói... um membro do grupo enviado para matar o Lorde
Demônio. Não seria surpreendente que um membro da igreja à qual María pertence
e um homem cujo ganha-pão girava em torno de conhecer pessoas a tivessem visto.
Flum
tentou rir deles, talvez de forma óbvia de mais. “Provavelmente é só a
imaginação de vocês, acho. Ha... hahaha.”
Felizmente,
ou infelizmente, os dois pareciam terem acreditado nela. “Eh, entendo. Peço
desculpas pelo mal entendido.”
“Não
se preocupe por isso, não é nada1” Flum sentiu uma pontada quando alguém pede
desculpa quando, na verdade, eles estavam certos.
“E
você, senhorita...” Continuou Leitch, dirigindo-se a freira. “Suponho que é uma
mulher santa.”
“Quem?
Eu? Sou Sara Anvilen, você não sabe? Como pode ver, estou trabalhando duro para
servir a Origem.” Suas raízes como garota de interior eram evidentes na sua
forma de falar. No entanto, combinava muito bem com ele.
“Ah,
então você é da igreja! Obrigado pela sua assistência. Não posso expressar
minha gratidão pela sua amabilidade.”
Sara
colocou as mãos na cintura e estufou o peito.
“Você
não precisa me agradecer, vovô. Derrotas os valentões é parte dos deveres de
uma freira.”
Flum
sempre havia pensado nas freiras como mulheres puras e elegantes que eram um
pouco fracas... nada como essa garota endurecida pela batalha. O cara deitado a
seus pés provavelmente também não esperava.
“Então,
o que fazemos com esses punks?”
“Agora
que eu recuperei minha bolsa, pessoalmente eu acho que não há mais nada o que
fazer.”
“Você
provavelmente tem razão. O tratamento que demos a eles tem que ser suficiente.”
Vão
deixar eles irem? Flum podia entender se os culpados fossem só pessoas pobres
que estavam fazendo uma tentativa mal planejada de roubar algo, mas os bandidos
eram aventureiros, e acima do Rank D. Esses caras provavelmente só eram
ambiciosos e buscavam dinheiro rápido. Ela duvidava seriamente que uma surra os
faria se arrepender de suas ações.
“Acho
que deveriam estar presos. Se não, eles voltaram a fazer.” Flum estava segura
disso.
No
entanto, Sara parecia discordar. “Você não acha que as pessoas vão fazer as
pazes depois de uma boa surra? Sei que deixo de fazer o que eu estou fazendo
cada vez que minha professora me da um golpe.”
“Isso
é por que você é uma boa pessoa. Esses... bandidos aqui precisam de algo um
pouco mais extremo para aprenderem a lição.”
“Isso
é... isso é uma realidade um pouco triste.”
O
fato de que Sara achasse isso triste confirmou as suspeitas de Flum sobre a
bondosa que ela era na verdade. Inclinou-se um pouco para ficar na altura dos
olhos da freira.
“Bem,
sim, é um pouco triste. Mas também é a verdade. No entanto, com um pouco de
trabalho, talvez algum dia eles possam se converter em pessoas melhores. Como
você.”
“Está
bem, eu entendo.” A tristeza de Sara desapareceu tão rápido quanto veio, o que
ilustrava ainda mais sua alegre inocência. “Nesse caso, provavelmente
deveríamos chamar os guardas, ou talvez os cavaleiros da igreja. “O que você
acha senhor Leitch?”
“Visto
que a senhorita Flum mora no Distrito Oeste, acho que o melhor é confiarmos no
seu critério.”
“Ok!
Então chamarei os cavaleiros. Conheço alguns deles.” E com isso, Sara saiu
correndo antes que Flum ou Leitch tivessem sequer a oportunidade de responder.
Viram-na desaparecer ao longe como um tornado que acaba de arrasar uma cidade.
“Certamente
está emocionada.” Disse Milkit.
“Dá
pra ver. Ah, a exuberância da juventude...” Murmurou Flum.
Leitch
riu com ironia. “Ambas são muito jovens, sabia?”
“Sim?”
O
olhar gentil de antes foi substituído por um de grave seriedade quando o homem
mais velho encontrou o olhar de Flum. Ela sentiu tensa de surpresa com a
rapidez que seu comportamento mudou.
“Sabe,
antes eu estava procurando um aventureiro talentoso. Me pergunto se você
estaria interessada em aceitar um trabalho para mim.”
“Um
trabalho?...”
Agora
ela era oficialmente uma aventureira, mas a ideia de aceitar um trabalho de
alguém que acabava de conhecer, muito menos o dono de Shoppe Macanthy, era
difícil de entender. Ela não era exatamente contra isso, mas pensou que quase
com certeza seria um trabalho muito grande.
Flum
olhou para baixo em tom de desculpa.
“Para
ser honesta, sou somente uma aventureiro de Rank F. Realmente não sou tão
forte.”
“Sério?
E pode fazer tudo isso?”
“Bom,
na verdade, me converti em uma aventureira ontem. Pode comprovar por si mesmo
usando Escanear, si assim desejar.”
“Você...
todas as suas estatísticas são zero? Então, como você luta assim?”
Flum
olhou seu equipamento. “Tudo é graças a isso.”
As
maldições nos seus equipamentos definitivamente deram a ela estatísticas mais
altas do que um aventureiro Rank F médio. Mas ainda era muito nova nisso tudo,
e Flum sabia que o conhecimento e a experiência desempenhavam um papel
importante ao determinar a habilidade de um aventureiro. Não tinha a confiança
suficiente para afirmar que era algo mais do que Rank F.
“Mas
mesmo com estatísticas tão baixas, você conseguiu derrotar esse homens com
facilidade.”
“Realmente
não foi nada....”
“Uau,
eu diria que seu Rank é muito baixo por que as pessoas ainda não se deram conta
da quão talentosa você é. E justamente um aventureiro relativamente
desconhecido seria excelente para meus propósitos.”
Flum
teve uma estranha sensação de apreensão diante disso. Preferir a um aventureiro
relativamente desconhecido significava somente uma coisa: que queria manter
esse assunto em segredo. O fato de ele estar tentando contratá-la diretamente,
no lugar de passar pela guilda, o fazia ainda mais suspeito.
Leitch
pareceu se dar conta da preocupação de Flum, por que sua expressão se suavizou
instantaneamente. Pareceu decidir que era melhor se explicar. “Minha esposa
adoeceu, sabe?”
“Sinto
muito ouvir isso. Mas você não deveria ir na igreja e buscar um curandeiro?”
“Infelizmente
a magia não pode curar a condição da minha esposa. Falei com um sacerdote e ele
simplesmente me disse que acreditasse na minha esposa e que ela teria que sair
dessa por sua conta.”
Milkit
ficou visivelmente tensa diante disso, sem duvida se lembrando dos efeitos da
toxina mustardo no seu rosto.
Isso
só podia significar...
“Depois
de consultar um pouco de literatura, encontrei uma menção de algo que poderia
cura-la.”
“Ahhh.
E por isso quer me pedir que eu aceite o trabalho?”
Se
passava pela guilda, provavelmente voltaria para a igreja, já q estava tentando
fazer algum tipo de medicamente fitoterápico... algo que um homem como Leitch
queria evitar. Depois de tudo, a igreja expulsou os médicos profissionais do
reino em busca de benefícios próprios. Nem sequer era historia antiga. Ainda
escutava com frequência que os fabricantes clandestinos de medicamentos foram
descobertos e acusados do delito de fabricação ilegal de drogas.
Leitch
baixou os olhos para o chão.
“Minha
esposa está piorando a cada dia que passa. Temo que, si não atuo agora para
conseguir o remédio que ela tanto precisa, pode ser tarde de mais. Claro, eu
pagarei uma quantia generosa pela sua ajuda. Entendo que um trabalho realizado
fora da guilda não contará para subir de rank, então eu tenho a intenção de
pagar mais para compensar.”
Para
ser franca, Flum não podia ter deseja uma oportunidade melhor. Pelo que ela
podia dizer, esse trabalho não ira ferir ninguém e a salvou de ter que lidar
com a escória da guilda. Sem falar neles negando sua parte nos ganhos de um
trabalho bem remunerado como esse.
“O
que você acha, Ama?”
Flum
levou um dedo ao queixo de forma pensativa. “Hmm...”
Apesar
de todas as recompensas potenciais que oferecia o trabalho, também carregava um
grande risco. Se a igreja as surpreendia durante o ato, Flum poderia se
encontrar em problemas ainda maiores dos que já tinha. Por outro lado, também
queria fazer isso por Leitch. Era obvio que sua esposa significava muito para
ele, e só isso já era suficiente para tomar uma decisão.
Flum
se virou para Leitch. “Estaria honrada em aceitar seu trabalho.”
Com
essas palavras, o olhar cauteloso no rosto de Leitch desapareceu, deixando para
trás um sorriso brilhante. As lagrimas começaram a brotar nos cantos dos seus
olhos, traindo tudo o que o homem havia suportado.
“De
verdade? Obrigado, muito obrigado! Os deuses mercantis realmente estão sorrindo
para mim!” Juntou as mãos em oração e as levantou para o céu enquanto as
lagrimas corriam livremente pelas suas bochechas.
Depois
de esperar um momento para que se acalmasse, Flum decidiu pedir mais detalhes.
“Onde posso encontrar essas ervas?”
Sua
expressão se escureceu. “Na verdade... não sei. O livro menciona uma flor azul
conhecida como kialahri, mas isso é tudo o que estava escrito nele.”
Levando
em conta os esforços da igreja para se desfazer de todos os livros de medicina
a base de ervas, era nada menos que um milagre que nem sequer isso havia
sobrevivido. É quase certo que Leitch teve muitos problemas para conseguir
aquele livro, na esperança de salvar sua esposa.
“Entendo.
Então, você gostaria que eu fosse busca-la.”
“Assim
é. Sei que parece uma idiotice ir buscar uma erva quando nem sequer posso dizer
onde a encontrar, mas infelizmente não tenho opções.”
Sonhava
desesperado. Mesmo Flum se sentia insegura em aceitar esse trabalho,
considerando que ela não tinha nada para continuar, mas...
“Aceito
sua solicitação e eu juro que não me renderei até que eu a encontre.”
Depois
de tudo, conhecia alguém bem versado nas artes da fitoterapia. Se pudesse a
encontrar, poderia ter uma oportunidade. O único problema era se realmente
ajudaria Flum.
As
palavras de Jean voltaram para a sua mente.
“Oh, duvidaram, certo. Mas eles finalmente
concordaram que era o melhor.”
“Além disso, sejamos sinceros, você
era uma carga muito grande para eles do que para qualquer outra pessoa.”
Todos
no grupo odiavam ter ela por perto, ao menos podia acreditar no que disse. As
palavras de Jean se cravaram profundamente no coração de Flum, quase como um
ácido que lentamente a devora. Se tiver razão, parecia pouco provável que
Eterna os ajudasse.
“No
entanto, pode levar algum tempo.”
“Minha
esposa não tem muito tempo nesse mundo, mas nesse momento não estava em grave
perigo. Tudo o que posso te pedir é que trabalhem o mais rápido possível, mas
eu entendo que não é de muita ajuda. Tenho toda a informação que eu consegui
reunir sobre o kialahri na minha casa. Visite-nos quando você tiver a
oportunidade.”
“Entendido.”
Com
uma sincronização impecável, Sara se reuniu com eles justo quando a conversa
estava terminando. Dois soldados vestidos com uma armadura de chapa branca
chegaram atrás dela.
“Ed,
Jonny, por aqui!”
“Uau,
parece que essa vez tem um monte dele. Arrastar eles vai ser um incomodo...”
“Ei,
você deveria estar feliz pelo trabalho. Agora rápido e levem esses bandidos
para longe daqui.”
O
soldado chamado Ed riu e acariciou carinhosamente a cabeça de Sara. “Eu deveria
ter esperado quando foi você quem relatou o incidente.”
Ela
se retorceu de incomodo e tentou afastar sua mão, embora estivesse claro pela
forma em que se comportou entre eles que os três eram muito próximos. Os
cavaleiros conjuraram um anel mágico de luz e o usaram para atar os homens
inconscientes. Depois de pedir para Leitch, Flum e Milkit uma breve declaração
sobre os acontecimentos, os homens foram arrastados.
Sara
os saludou com entusiasmo quando se afastaram. “Desejo-lhes sorte!”
Flum
teve a impressão de que a garota estava correndo sem parar desde que se foi um
pouco antes. Estava coberta de suor, mas também estava radiante de orgulho.
Essa jovem freira certamente transbordava energia.
Uma
vez que os cavaleiros saíram da vista, Sara se dirigiu a Flum. “Eu realmente
espero que esses garotos melhorem sua aptidão quando saírem da prisão.”
“Eu
também. Com um pouco de sorte, mudarão suas vidas.”
Ela
também estava falando sério. Ajudaria a melhorar a má reputação que tinha o
Distrito Oeste e também tiraria de Dein um ou dois dos seus comparsas.
“Então,
ei, Leitch. Havia algo que eu queria te perguntar.”
Leitch
respondeu casualmente. “Sim?”
Sara
inclinou a cabeça para um lado enquanto inspecionava seu rosto de perto. “Você
está preocupado com algo, verdade? Conte-me... sobre algum tipo de fitoterapia,
talvez?”
Flum
sentiu seu coração começar a acelerar. Como ela soube...?
Leitch
parou por um breve momento antes de responder com um rosto tranquilo. “Hm, de
jeito nenhum.”
No
entanto, Flum podia sentir que seu coração batia a um ritmo muito parecido com
o dela. Depois de tudo, não como Sara ter escutado sua conversa. Então, por que
perguntaria isso?
“Hmm,
entendo.”
“E
o que te fez achar isso?”
“A
expressão no seu rosto me lembrou de alguém que eu havia conhecido antes. Vocês
pareciam exatamente iguais e tinham um problema similar. Mas, você sabe, por
ser uma freira e tudo isso, não é como se pudesse me pedir ajuda, então eu
estava pensando que, se você tiver o mesmo problema, eu poderia procurar ela e
consegui-la.”
“Você,
membro da igreja, proporcionar para alguém remédios à base de ervas?”
“Quem
se importa com isso? Meu trabalho é ajudar os necessitados. Ao menos isso é o
que a senhorita María sempre me ensinou!”
“María...?”
Os
olhos de Sara adquiriram um brilho de admiração.
“María
é incrível! Nesse momento ela esta em uma viagem heroica, mas sempre cuidou de
mim quando estávamos juntas na igreja.”
Agora
Flum estava segura de que estavam falando de María Affenjenz, embora houvesse
uma pequena brecha entra a María que Flum conhecia e a que Sara descrevia. Era
verdade que María era amável, mas cada vez que se encontrava cara a cara com um
monstro, seu comportamento mudava completamente. Além disso, assim como Jean
havia apontado com tanta alegria, María nunca se incomodou em usar sua magia
curativa em Flum, questionando a quão “santa” era realmente se podia diferencia
tão facilmente entre aqueles que mereciam amabilidade e aqueles que não.
Para
ser honesto, Flum ainda podia ver certa logica. Havia sido uma inútil em
praticamente todos os aspectos do grupo, então pode ter sido fácil para María
considerar ela indigna.
“Sinceramente,
acho que é estranho que a igreja proíba o uso de remédios. Se podem curar as
pessoas de doenças que a magia não pode curar, então devemos usar tudo o que
possamos! Mas, eh, não fale para ninguém que eu disse isso, ok? Os funcionários
da igreja ficariam muito bravos.”
Os
três trocaram olhares de surpresa diante dos comentários de Sara. Isso não era
algo que esperavam escutar de um membro da igreja. Leitch olhou para a jovem
com um olhar sério, como se a analisasse cuidadosamente para ver se podia
confiar nela.
“Entendo
seus sentimentos, especialmente considerando tudo o que a igreja fez. Mas por
favor compreenda que eu quero ajuda-lo em tudo o que eu puder, Sr. Leitch. Além
disso, a igreja ainda tem algumas reservas de ervas!”
“A
igreja tem ervas?”
“Só
algumas, mas sim. Eu mesma as vi.”
A
mente de Flum vagou por um momento sobre que uso podia ter para a igreja ter
ervas consigo. No entanto, isso não importava nesse momento... não se tinha
alguma informação sobre onde podia encontrar a erva kialahri.
Leitch
tinha duas decisões difíceis diante dele: claramente era melhor não falar sobre
isso e se arriscar mais do que já havia feito, mas falar com ela também poderia
resolver muitos dos seus problemas.
“Levando
em consideração, acho que podemos confiar nela.” Disse Flum.
“E
o que te faz acreditar nisso?”
“O
olhar de inocência nos seus olhos, de verdade. Em minha opinião, ela não parece
estar mentindo, e geralmente sou boa jugando caráter.”
Leitch
fechou por um momento para pensar. Quando os abriu de novo, estava claro que
havia tomado uma decisão. “Se essa é sua opinião, então...”
A
precaução era a chave para ser um homem de negócios, mas também era saber
quando confiar nos demais. Ambas qualidades haviam ajudado Leitch a transformar
Shoppe Mancathy no enorme complexo que agora era. Esses anos de experiências
serviram agora de base para sua decisão.
“Bom,
na verdade tenho um problema com algumas ervas medicinais, senhorita Sara.”
“Eu
sabia!” Sara sorriu.
“Veja,
minha esposa adoeceu e preciso adquirir uma erva medicinal chamada kialahri se
quiser cura-la.”
“Kialahri?
Hmm... Nunca ouvi falar dessa, mas aposto que encontro algo se eu investigar um
pouco!”
“Ficar
feliz em escutar isso. Eu já pedi para a senhorita Flum me ajudar a
encontra-la, então provavelmente vocês duas possa trabalhar juntas. Te pagarei,
claro.”
“Não
há necessidade disso, vovó! Ajudar as pessoas é meu trabalho e, além disso,
recebo um estipêndio da igreja.”
Flum
não deixou de admirar a devoção sem interesses da jovem para ajudar os demais.
De fato, fez ela questionar sua própria moral, considerando a facilidade com a
que havia aceitado o pagamento oferecido por Leitch.
“Segura?
A verdade é que...”
“Sério,
não precisa. Além disso, se os funcionários da igreja descobrirem que estou
ganhando algo de dinheiro adicional ficariam com muita raiva. Já recebi
chicotadas suficientes, muito obrigado.” O rosto de Sara se escureceu e
inconscientemente esfregou a parte inferior das costas, como se lembrasse de um
doloroso incidente do passado.
Isso fez Leitch rir um pouco. Se esse era o caso, que
assim seja. E com isso, partiram para a casa de Leitch para começar a formular
um plano para encontrar a erva kialahri.
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Leitch deu para as três garotas a informação que havia reunido, e saíram por caminhos diferentes para ver o que podiam encontrar, e Sara imediatamente se dirigiu para a igreja para procurar os registros enquanto Flum revisava superficialmente todos os dados, livrarias e bibliotecas da capital. Para grande decepção de Flum, ambas voltaram com as mãos vazias.
Dois
dias depois da sua primeira reunião, Sara passou pela pousada de Flum e Milkit
com um memorando escrito no que poderia ser caridosamente chamado de rabiscos.
Segundo ela, no entanto, o que estava escrito ali era o nome da caverna na que foi
encontrado o kialahri.
Sara
sorriu enquanto falava. “Demorei um pouco para escapulir, mas finalmente obtive
a informação que estava buscando.”
Aparentemente,
os livros que contem informação sobre a erva kialahri foram guardados em algum
lugar escondido da maioria dos membros da igreja. Flum sentiu um peso na
consciência pelos riscos que Sara estava correndo por eles.
Segundo
o que Sara havia encontrado, a caverna estava localizada próxima a um povoado
conhecido como Anichidey.
“Aparentemente
é uma cidade pequena do tipo: ‘Nem sequer tem uma pousada. Seria bom se
pudéssemos encontrar alguém para ser nosso guia.”
“Sabe,
acho que já ouvi falar de um lugar chamado Anichidey.”
“Não
é dai que Stude, o pousadeiro, disse que é, Ama?”
“Você
tem toda a razão!”
“Você
se refere ao garoto super alegre de baixo?”
As
três garotas saíram apressadas da habitação para ir procurar Stude. Flum
hesitou em descrever toda a situação da fitoterapia para ele, então mudou um
pouco os detalhes, dizendo somente que havia aceitado um trabalho que a
enviaria para Anichidey.
Isso
pegou Stude de surpresa, mas só por um momento, antes que seu doce sorriso
voltasse e desse uma gargalhada. “Vamos, o que deu em você para ir para uma
cidadezinha como essa? Bom, você realmente está com sorte! Minha família não só
é dona da única pousada em Anichidey, como também eu estava pensando em ir
visitar minha mãe.”
Se
ofereceu como guia antes mesmo que pudessem perguntar. Realmente era um cara
legal.
Agora
que tinha um plano para conseguir os kialahri que tanto precisavam, as garotas
se dirigiram para a casa de Leitch para atualiza-lo. Seus olhos se encheram de
lagrimas de alegria quando soube da visita de Anichidey e do seu plano. Era um
homem surpreendentemente emocional, pensou Flum em segredo. Na verdade, era
muito impressionante que houvesse chegado tão longe como homem de negócios.
Quando
questionado sobre como fazer os preparativos para alugar uma carroça, Leitch
insistiu em tomar conta disso, incluindo de todos os custos associados a
viagem.
“Agora
que temos transporte e Stude para nos ajudar, acho que Milkit e eu podemos nos
encarregar das coisas a partir daqui.”
Era
uma viagem de quatro dias até Anichidey e de volta, sem contar o tempo que
passaria ali. Simplesmente não havia forma de que Sara ficasse tanto tempo fora
da igreja. Ou isso pensava Flum. Contudo, Sara resistiu à mera sugestão.
“Eu
também vou ir!”
Depois
de varias rodadas obstinadas de ‘não deveria’ e ‘irei’, finalmente Milkit
interveio: “Não vejo nenhum problemas com isso, Ama.”
Isso
foi tudo o que precisou para inclinar a balança a favor de Sara e finamente
Flum se rendeu. Quando expressou sua preocupação de que as pessoas percebessem
que havia ido, Sara apenas sorriu.
“Não
se preocupe sobre isso. Nós, as freiras, sempre saímos para ajudar as pessoas.”
Parecia
confiante, então deveria estar tudo bem. Ou pelo menos, Flum esperava que assim
fosse.
Sua viagem estava marcada para a manhã seguinte. Sairiam
com a primeira luz do dia.
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De
repente, uma voz veio através da escuridão desde a outra cama. “Está dormindo,
Milkit?”
“Ainda
não. Estou... nervosa, eu acho.”
Flum
riu. “Oh, você também?” Ela se sentia da mesma maneira. “Bem, então por que não
conversamos um pouco?”
“Acho
que gostaria.”
“Hmm...
Bom, então, do que deveríamos conversar? Umm...”
“Nesse
caso, posso te fazer uma pergunta?”
“Mas
é claro! Desembucha.” A voz de Flum adquiriu um tom animado com a perspectiva
de Milkit mostrar algum interesse por ela.
“Alguma
vez você já viajou para algum lugar antes, Ama?”
Aparentemente,
a pesar de todo o tempo que as duas haviam passado juntas, Milkit ainda não
havia se dado conta do fato de que Flum já ter sido membro do famoso grupo de
heróis. Talvez ela nem soubesse que o grupo existia, considerando que havia
vivido sua vida como escrava. Até agora Flum havia evitado o tema, mas agora
que Milkit havia mostrado certo interesse em aprender mais sobre ela, pensou
que era hora de revelar algo sobre si mesma.
Honestamente,
provavelmente era melhor para sua relação que ela mencionasse antes que Milkit
descobrisse.
“Na
verdade, viajei com os herói escolhidos.”
“Oh?”
Flum
não podia ver seu rosto através da escuridão, mas estava claro pelo seu tom que
Milkit estava confusa. Para ser justo, ela realmente não tinha muitas provas
para apoiar suas afirmações.
“Heróis...
Poderia me dar um exemplo do que isso significa?”
“Hmm.
Bem, você sabe, como os heróis dos que você sempre ouviu falar. Estou certa de
que você conhece Cyrill, verdade? Cyrill Sweechka?”
“Eu
ouvi falar dela, sim.”
“Bem,
viajei com ela, Eterna, Gadhio e algumas outras pessoas famosas durante vários
meses.”
Mesmo
alguém tão desinteressada no que acontece no mundo exterior como Milkit havia
escutado esses nomes antes. Ela rodou de lado e olhou para a escuridão na
direção da voz de Flum.
“Quer
dizer que foi um desses heróis escolhidos, Ama?”
“Assim
é. No entanto, é difícil de acreditar no você vê agora.”
“Acho
você incrível, Ama.”
Flum
viu o intenso olhar de Milkit espiando através de suas vendas. Era um olhar de
absoluto respeito e devoção. Deixou escapar uma risada nervosa quando seus
olhos se encontraram.
“Honestamente,
não sou nada especial. Simplesmente fui escolhida por Origem e, portanto, me
enviaram de viagem. Tudo isso antes que me vendessem a um traficante de
escravos e me marcassem para sempre com essa maldita marca.”
Mesmo
agora, ainda estava desconcertada pelo fato que Origem a havia escolhido. Ela
ainda costumava amaldiçoar seu destino, desejando que o deus houvesse a deixado
ela sozinha.
“Oh,
então é por isso...” Milkit parecia convencida, mas ela não conseguiu adivinhar
de quê.
“O
que é?”
“Apesar
de ambas sermos escravas, havia algo que parecia especial em você.”
Ela
estava falando da vez que se conheceram, quando ambas estavam presas juntas na
cela do sótão. Havia algo em Flum que simplesmente chamou a atenção dela.
“Olhei
para você e me dei conta de que ainda havia certo otimismo em você. Não se
parecia em nada com o que havia visto em outros escravos. Não podia entender o
que estávamos fazendo na mesma cela húmida, mas agora tudo faz sentido, sabendo
que recentemente você se converteu em uma escrava. Estou certa de que há algum
lugar ao qual você pertence, Ama.”
Flum
esticou o lábio em aborrecimento. “Por que faz parecer que você já é uma causa
perdida?”
“Bem,
por que isso é verdade.”
“Se
assim é como você se sente, então suponho que não tenho outra opção além de te
levar comigo onde quer que eu vá.”
“Você
continua falando isso, Ama?” Apesar da sua tentativa de parecer preocupada,
havia um indicio obvio de animação na voz de Milkit.
“Você
não gostou dessa ideia?”
“...
Eu gostei. E isso é o que é tão preocupante.”
Flum
sorriu. “Nesse caso, isso é bom.”
Milkit
também começou a rir, um som tão suave que facilmente poderia ter sido
confundido com o barulho do vento. “Espero que nossa viagem amanhã saia bem.”
“Sim,
e uma vez que voltemos e nos paguem, vamos nos presentear com uma janta
elegante.”
“O
almoço de hoje foi muito bom. Acho que eu nunca comi algo assim antes.”
“Almoço?
Isso não foi nada especial, sabe. Mas se você gostou, vamos repetir, ein?”
Mais
uma vez havia algo de emoção na voz de Milkit. “Vamos.”
Enquanto
as duas falavam durante a noite, suas preocupações sobre a viagem começaram a
desaparecer, embora elas nunca tivessem partido completamente. De fato, quanto
mais falavam, mais se esqueceram de que deveriam estar dormindo.
Depois
que isso continuou durando algum tempo, finalmente Flum aceitou a ansiedade que
sentia e fechou os olhos. “Boa noite.”
“Tenha
bons sonhos, Ama.”
E
com isso, o silencia caiu sobre a habitação enquanto a lua continuava seu
preguiçoso caminho pelo céu. Quando o sol aparecesse, começaria sua viagem.
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